segunda-feira, setembro 26, 2011

Do Comer e Lapsos

Não faltou apetite, mas faltou prazer. Cada garfada rápida era um movimento mecânico de ingestão meramente para alimentar o corpo.

Não ouvia nada que estava se passando em volta, só sabia dizer que, em uma das mesas ao lado, um grupo de pessoas ria e, em outra, uma moça falava animada ao telefone.

Eu queria sair logo dali.

Sentado em minha cadeira, eu só ouvia meus pensamentos me atormentarem, minha carência gritando como giz arranhando o quadro negro.

Já sentiu uma vontade egoísta de morrer só pra ver de cima como as pessoas reagiriam à notícia?

Lapso besta!

Nossa cultura nos educou a acreditar que só vale o que se conquistou com sofrimento.

Eu já acho que o sofrimento só é suportável se for por algo que valha a pena.

Paradoxo pensar que a gente tem tanta facilidade em complicar as coisas e no fim das contas é a gente mesmo que sofre.

Vamos capinar, suar e chorar também. É água do corpo. Parte da gente.

E se for para rolar no chão, somos de terra.

E com isso, o prato nem viu a comida pousar sobre ele, tamanha a rapidez com que se foi.