Se chamava angústia

Os sentimentos estavam ali. Ansiavam por serem expulsos.. Mas antes precisavam se tornar ideia, para depois virarem palavras, e só assim serem vomitados.
Enquanto isso, se chamava angústia.
Quase confundida com a asia, só que ao invés de açoitar o estômago, estrangulava a garganta.
Arrisco a dizer que aquilo que segura isso dentro da garganta e impede de pular boca afora, é o mesmo que impede que nossos olhos se derramem em lágrimas.

Equalize

Procurava encontrar sempre razão para tudo. Os sentimentos eram apenas respostas a estímúlos e, portanto, logicamente poderiam ser analisados.
Como se cada um deles pudesse ser colocado, como amostra, em um tubo de ensaio. Etiquetado. Minunciosamente estudado até que fossem separados em moléculas ou qualquer coisa minúscula e sem importância.
Quando a verdade é que os diplomas colecionados, emoldurados nas paredes do escritório. As várias horas passadas prestando atenção em palestras ministradas em diversas línguas diferentes, ou as intermináveis fórmulas excêntricas esboçadas nos cadernos não o ensinaram nada sobre a vida.
Ensinaram-no sobre uma vida de hipóteses, de probabilidades.
Nunca quis se arriscar por medo de sofrer.
- O sofrimento pode ser evitado cortando o mal pela raiz.
Enquanto procurava equalizar tudo, o mundo girava à sua volta, respirava e vivia.
E ele?
Ah, ele estava muito bem, obrigado, vivendo em sua redoma de vidro onde nada mais do que o que era lógico podia entrar.

Macio

O lençol branco perfumado da cama

e o primeiro raio de sol faceiro

entrando pela frestinha da janela

Borboletas, asas multicoloridas

flores caindo das árvores

Os olhos se abrem lentamente

e miram uns aos outros

Pisando em nuvens de marshmallow

Macias e brancas

Caminhando lentamente

para uma manhã ensolarada