Oco
Colocou aquela música pra tocar no volume máximo. Era um piano melancólico tocado por dedos perspicazes, firmes, porém delicados.
Dedos bailarinos que dançavam pelas teclas e produziam uma música rebuscada, cheia de lembranças, desejos, sonhos partidos.
Abriu levemente o registro do chuveiro, escolheu a temperatura mais alta, sentou-se no chão, abraçou as pernas dobradas e colocou a cabeça entre elas. Deixou a água cair envolvendo em um abraço de calor e conforto.
Lutava intensamente para alcançar dentro de si qualquer tipo de sentimento. Lá dentro parecia uma caverna profunda, escura. Bem escura. Lá no fundo luzia uma luzinha trêmula, lembrava um pavio de vela aceso. Era fraca, vacilava quase apagando, mas insistia em se manter acesa.
Aquela luzinha lá no fundo iluminava com muito custo as paredes distantes. Nada se enxergava com clareza.
Resolveu sentar e admirar a caverna escura. Não sentia alegria, nem medo, nem surpresa. Um fio de tristeza superficial como a pele era o mais próximo de algum sentimento que estava ali.
De repente esse sentimento penetrou seu peito. Fino e profundo feito uma agulha. E então pôde perceber o quão distantes de fato as paredes estavam. O quão fria parecia a caverna. Sabia que, se gritasse, seu eco poderia viajar por anos, sem encontrar sequer um obstáculo para bater e voltar.
Estava ali, sozinho. A sensação era de vazio. Ainda sim, não sentia medo.
Em um instante, recobrou a consciência e voltou a sentir o calor da água envolvendo seu corpo. Respirou aliviado.
Tentou puxar o ar mais uma vez, mas estava novamente na caverna fria. Conseguia agora ouvir, ao longe, algo batendo, devagar, ritmado. Parecia um tambor bem fraco e distante, mas presente.
O som ecoava e parecia chamar. Tentou se levantar, mas as pernas falharam. Tentou mais uma vez, mas parecia carregar algo muito pesado em suas costas. Parou atentamente para escutar e se certificou de que o som não havia cessado.
Sentou-se novamente na posição fetal e fechou os olhos. Então conseguiu sentir a água quente e o som das batidas.
Ouviu as teclas do piano dançarem e viu a luz trêmula.
Sentiu um alívio e sentiu também aquele fio de tristeza. Ali era o seu lugar. Quente, fracamente iluminado, vivo, mas ainda sim, dentro da caverna. Oco.
Dedos bailarinos que dançavam pelas teclas e produziam uma música rebuscada, cheia de lembranças, desejos, sonhos partidos.
Abriu levemente o registro do chuveiro, escolheu a temperatura mais alta, sentou-se no chão, abraçou as pernas dobradas e colocou a cabeça entre elas. Deixou a água cair envolvendo em um abraço de calor e conforto.
Lutava intensamente para alcançar dentro de si qualquer tipo de sentimento. Lá dentro parecia uma caverna profunda, escura. Bem escura. Lá no fundo luzia uma luzinha trêmula, lembrava um pavio de vela aceso. Era fraca, vacilava quase apagando, mas insistia em se manter acesa.
Aquela luzinha lá no fundo iluminava com muito custo as paredes distantes. Nada se enxergava com clareza.
Resolveu sentar e admirar a caverna escura. Não sentia alegria, nem medo, nem surpresa. Um fio de tristeza superficial como a pele era o mais próximo de algum sentimento que estava ali.
De repente esse sentimento penetrou seu peito. Fino e profundo feito uma agulha. E então pôde perceber o quão distantes de fato as paredes estavam. O quão fria parecia a caverna. Sabia que, se gritasse, seu eco poderia viajar por anos, sem encontrar sequer um obstáculo para bater e voltar.
Estava ali, sozinho. A sensação era de vazio. Ainda sim, não sentia medo.
Em um instante, recobrou a consciência e voltou a sentir o calor da água envolvendo seu corpo. Respirou aliviado.
Tentou puxar o ar mais uma vez, mas estava novamente na caverna fria. Conseguia agora ouvir, ao longe, algo batendo, devagar, ritmado. Parecia um tambor bem fraco e distante, mas presente.
O som ecoava e parecia chamar. Tentou se levantar, mas as pernas falharam. Tentou mais uma vez, mas parecia carregar algo muito pesado em suas costas. Parou atentamente para escutar e se certificou de que o som não havia cessado.
Sentou-se novamente na posição fetal e fechou os olhos. Então conseguiu sentir a água quente e o som das batidas.
Ouviu as teclas do piano dançarem e viu a luz trêmula.
Sentiu um alívio e sentiu também aquele fio de tristeza. Ali era o seu lugar. Quente, fracamente iluminado, vivo, mas ainda sim, dentro da caverna. Oco.