quarta-feira, maio 11, 2011

Herança

Antes de partir, deixo o meu melhor para uns e outros, pois o lado negro de minha alma partirá junto com minha carne.



Aos que de tristeza vivem, que estão sempre a reclamar, deixo o meu sorriso, pois é dotado de alva sinceridade e alegria radiante.



Aos pobres de espírito, deixo o meu caráter, pois de nada vale um homem se não tiver algo do que se orgulhar.



Aos que sentem frio, deixo o meu abraço. Hão de convir comigo, até mesmo o mais cético dos céticos, que não há forma de calor mais intensa.



Aos que choram, deixo meu colo. Quando se sofre, não há melhor lugar para estar no mundo do que num colo sendo afagado.



Aos conformados, deixo minha vivacidade. A ânsia por aprender novas coisas e conhecer novas pessoas. Pois um homem não é feito de si próprio, mas do seu arredor.



Aos que mentem, deixo o meu olhar. Muitas vezes não é necessário mais do que isto para descobrir verdades.



Aos auto suficientes, deixo minha companhia. Uma hora ou outra a gente acaba precisando.



Aos sem perspectiva, deixo meus sonhos. São os sonhos que nos fazem descansar da realidade caótica e tornam-na mais humana.



Aos desesperados, deixo minha serenidade. Um bálsamo para as feridas aumentadas pela ansiedade.



Àqueles que não acreditam no amor, deixo minha história de vida (ou minhas histórias de vida, se assim preferirem), pois em meu coração já estão fincadas raízes palpáveis.



Enfim, deixo aos demais as lembranças que desejarem ter de mim. Só peço que sejam elas as melhores possíveis.